DELÍRIOS
E retorno ao meu passado em uma viagem imaginária, reencontro amigos, vejo pessoas amadas. Vejo inimigos, almas castigadas pelo tempo ,suave melancolia. Reabro novas feridas das quais já não recordava. Embalado nesses pensamentos, vejo que já não estou mais só, ou perdido, estou louco.
Largado nessa minha loucura, descubro novas virtudes, novas qualidades , já sei agora como é viver longe do mundo real. Consigo ter meu mundo próprio, um mundo incompreendido pelas pessoas, mas preservado pela sua ignorância. Já não mais me defendo da selvageria das cidades, ou do caos mental. Tenho meu próprio refúgio, meu lugar secreto, meu esconderijo.
Ignorada como que num quadro velho, vejo minha vida pintada. Vejo o tempo passando. Vejo o mundo se deteriorando. A degradação dos valores básicos de uma convivência jamais convivida. Já não há mais dor a ser cultivada pois num quadro não há espaço pra isso. Num quadro não se sente o real, só se vê.
Risos e lágrimas passeiam em minha mente. Imagino lugares onde já estive em outros planos. Vejo pessoas que me dão abraços e depois me abandonam, como se me largassem para ser devorado nesse mundo horrendo onde as pessoas lutam, se maltratam e matam. Choro diante dessa imagem, que me perturba a mente e magoa o coração.
Imagino mundos onde não há guerras, onde não há mortes. Imagino o impossível como o fim da morte, o fim do medo. Deixo de lado as mágoas e mergulho fundo no meu desespero e me vejo nu diante a criaturas que não sabem o que é indecência, apenas transparência e beleza. Cultivam a beleza interna pra que na próxima seja esta a externa. Não há mais medo ,não há mais dor, só perfeição.
O ser mais puro é quem me mostra o feio, o indiferente mostrou-me o fraco, o apaixonado mostrou-me o triste, e o infeliz foi quem mostrou-me o amor. De tanto caminhar cá estou de volta a praia, rastejo pela areia em busca de abrigo. Esbarro nas pessoas em busca de qualquer coisa. Estou novamente só, estou novamente perdido.
Solidão essa que me consome, e que me atormenta. Já não sei de nada, já perdi o rumo. Sinto-me acabado dentro dessa angústia, preso até a alma o sentimento some. Já não me resta nada a não ser deitar na areia, ouvir o som das gaivotas e do mar no seu ir e vir contínuo. Mas ainda sou eu que estou aqui de pé, erguido pela força que me mantém lúcido.
Fujo dessa sanidade, pra que sem vaidade me transforme em Deus. Sei que é impossível tamanha prepotência em minha insignificância almejar tal poder. Sei que é fora do normal abrir tal paralelo e deixar de lado o martírio e a dor. Faz parte de minha vivência, numa convivência, expressar amor.
Impossibilitado de fazer mudanças, vejo-me deitado diante o criador. E como que num sopro mágico eu sou carregado de volta a loucura. A mesma que me persegue e às vezes me alcança e que não me larga, apenas me consome.
Molhado em sangue, deitado na areia da praia, ouvindo o som das gaivotas e das ondas do mar no seu ir e vir contínuo, aqui estou. Já não estou mais só, perdido ou mesmo louco. Estou morto.
Niterói, 18 de Setembro de 1995.
André Luiz Conill Coelho
Este poema obteve o 2º lugar no concurso nacional de poesia da Editora Litteris, e foi publicado no livro "Sonhos".
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